Dizem que é preciso ser brilhante para entender o espírito do tempo e, nesse quesito, Alexandre de Moraes merece uma menção honrosa. Ele conseguiu realizar uma façanha histórica: transferiu o verdadeiro poder do povo aquele que se expressa nas ruas e derruba governos para um ambiente controlado e monitorado. Com um toque de genialidade, transformou as redes sociais no playground da “liberdade de expressão vigiada”, onde qualquer ato de rebeldia pode ser facilmente rastreado, silenciado e, se necessário, recompensado com uma prisão preventiva.

Não é à toa que movimentos de resistência bem-sucedidos ao longo da história ocorreram longe das hashtags e filtros de Instagram. A Revolução Francesa não aconteceu porque alguém fez uma thread no Twitter, mas porque o povo tomou as ruas exigindo pão e justiça. A Marcha sobre Washington, liderada por Martin Luther King Jr., não viralizou porque os ativistas estavam ocupados postando selfies, mas porque milhares de pessoas fisicamente se reuniram para desafiar um sistema injusto. Até mesmo as manifestações do “Fora Collor” no Brasil dos anos 1990 funcionaram porque a indignação estava nas praças, não nos stories.

Mas Moraes percebeu algo crucial: protestos nas ruas são perigosos. Eles derrubam líderes, enfraquecem ditadores e, em última instância, mostram que o povo ainda tem algum poder real. Foi por isso que ele trocou o risco das ruas pela ilusão do “debate democrático” nas redes sociais. Lá, as pessoas podem gritar, xingar e criar memes até o dedo cansar, mas, no fim do dia, continuam no sofá, enquanto cada palavra escrita é registrada, arquivada e usada para mostrar que o verdadeiro poder pertence a quem controla os servidores e as algemas.

O que importa é que o povo parece satisfeito. Afinal, quem precisa sair de casa e correr o risco de enfrentar bombas de gás ou cassetetes quando pode escrever uma postagem indignada no conforto do lar? Só que Moraes, o gênio, sabe que isso é apenas uma distração. E enquanto as pessoas se acomodam no falso poder de suas timelines, ele segue monitorando, porque quem controla as redes, controla a narrativa. E quem controla a narrativa, controla tudo.

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